1. |
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Duas coisas bem distintas, uma é o preço, outra é o valor
Quem não entende a diferença pouco saberá do amor,
da vida, da dor, da glória e tampouco dessa história,
memória de cantador
Reza a história que num dia, daqueles de sol arisco,
O bando de cangaceiros mais valente nunca visto:
Candeeiro, Labareda, Zabelê e Mergulhão,
Juriti, Maria Bonita, Volta Seca e Lampião,
Enedina, Quinta-feira, Beija-flor e Zé Sereno,
Lamparina, Bananeira, Andorinha e o Moreno,
Moderno, Trovão, Dadá, Moita Brava e mais Corisco,
Pra mó de se arrefrescar, margeavam o São Francisco
Ai que calô!
De repente um escarcéu aperreia a todo bando
Vem um trem rasgando o céu e na terra vai pousando
Do grande urubu de lata, cercado por muitos hômi
Desce um gringo de gravata falando ao telefone
Uns hômi tudo de preto, peste vinda do futuro
Que pra não olhar no olho veste óculos escuro
Um se aprochegou do bando, grande pinta de artista
Disse com ar de desprezo, muito seco e elitista:
“- Calangada arreda o pé, que agora isso é de Eike Batista…”
A peixeira já luzia quando o gringo intercedeu:
“- Perdoem a grosseria desse empregado meu
Sou homem civilizado, não gosto de violência
Trago papel assinado, prezo pela transparência
A terra é, de fato, minha. O governo fez leilão
Eu que dei o maior lance, ganhei a licitação
Não sou nenhum trapaceiro, o que é meu é de direito
Mas como bom cavalheiro lhes proponho um outro jeito…”
Chamou Lampião na chincha, prum papo particular
Uma proposta de ouro difícil de recusar:
“- Vou ganhar muito dinheiro com um novo agronegócio
Emprego teu bando inteiro e ainda te chamo pra ser sócio.”
“- Tu pode comprar São Paulo e o Rio de Janeiro
Foto em capa de revista por causa do seu dinheiro
Ter obra no mundo inteiro, petróleo, mineração
Mas aqui nesse pedaço, quem manda é o rei do cangaço…
VIRGULINO LAMPIÃO!”
Se tu gosta de X, mais um X eu vou lhe dar
no xaxado que diz XISPA!
E os hômi tudo de gravata desandaram a fugir
Subiram no urubu de lata e arredaram o pé dali
E até o velho Chico cantou pra todo mundo ouvir:
- Eike, Eike, Eike, Eike, Eike, hay que resistir!
Duas coisas bem distintas, uma é o preço, outra é o valor
Quem não entende a diferença pouco saberá do amor,
da vida, da dor, da glória e tampouco dessa história,
memória de cantador
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2. |
Pedras e Sonhos
05:42
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Bota a cara lá fora e me conta o que o teu olho escolhe ver
Olha pra dentro agora e lembra do que convém esquecer
Corre por que aí vem ela - A VERDADE!
Quem tem medo dela?
Vem pra te lembrar
Tranca a porta e a janela - A VERDADE!
Quem se esconde dela?
No meio do caminho uma pedra apareceu
No meio do caminho uma pedra pareceu ser o caminho
Sai da tua gaiola, me diz agora o que você vê
Sente na pele e chora, tarde demais pra esquecer
Corre porque aí vem ela - LIBERDADE!
Quem tem medo dela?
Vem pra te lembrar
Arromba a porta e a janela - LIBERDADE!
Quem se esconde dela?
Pedras são sonhos na mão, voam na imensidão
Ideias que ganham vida e criam asas
Voam na imensidão, meus sonhos minha canção
Pedras e sonhos são nossas únicas armas
Pedras são sonhos na mão
Flores que brotam, brotam do chão
Se as pedras não voam os sonhos são em vão
Em tempos de escuridão, o sol se põe
Mas se um dia as pedras cantam…
Se um dia as pedras cantam…
Se cantam as pedras os sonhos dançarão
E eu quero ver quem vai dançar!
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3. |
Adeus Adeus
08:03
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Venham ver quanto poder a fé pode te dar
Se a ela abrires o teu coração
Seja abençoado
Mesmo se eu andar pelo vale das sombras
Eu nada temerei
Hoje eu sei da força que me faz capaz
de remover montanhas… remover montanhas…
Remover montanhas que nas costas carreguei
Por temer a tua lei
Luz que me fez chorar tanto
Oh! Quanto eu orei
Até perceber o que os bem-aventurados não podem ver…
Senhor, na tua palavra encontrei a morada, o conforto,
A tranquilidade, a verdade, o caminho, a luz!
Servo da tua nobreza infinita,
Ajoelhado eternamente diante de ti
Seja feita a vossa vontade
Pela tua santa mão me guiaste
Me livraste de todos os sentimentos impuros
Que aprendi a trancar nos porões da minha alma
Nos porões escuros da minha alma
Pois as linhas tortas da minha vida tu, ó Senhor, retificaste
A inquietude do meu espírito, o ódio do meu coração
Tu, ó Senhor, aplacaste. Tornando a vida possível,
Toda dor suportável enfim…
O brilho da luz branca, o peso da cruz santa
A me cegar, a me pregar, tudo tão claro, ó Senhor!
Eu suportei, eu aguentei, eu aceitei, eu esperei
Hoje eu não espero mais!
Quero a vida agora, na guerra desse mundo
E se há servos e senhores, louvemos essa disputa!
Toda glória à paz que se conquista através da luta,
Dela irei atrás onde quer que se esconda
Porque hoje enfim eu sei.
Hoje eu sei que quanto maior a LUZ, quanto maior a LUZ…
Maior a SOMBRA!
Dos porões eu abro a porta, agora, me libertei
Acorrentado às minhas próprias escolhas, sempre estarei
Eu me confesso, eu rezo, pra que tudo seja ateu!
Fui fiel às tuas linhas tortas. Quanto eu orei!
Mas no fundo eu sempre soube que da missa eu não sabia um terço
Mas agora eu sei! Acho que sei…
Ressuscitado nas trevas clamando:
- ADEUS ADEUS!
Daqui pra frente é tudo com a gente
Então que seja o que a gente quiser
Será que é pecado crer que é na gente que a gente deve crer?
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4. |
Cantiga de Ninar
03:22
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Dorme meu bem, que o monstro já vai chegar
De olhos bem fechados ninguém sai machucado
Menino malcriado jamais é recompensado
Cuidado que a Cuca que a Cuca um dia te pega
Te pega dali, te pega de lá.
Cuidado que a Cuca que a Cuca um dia te pega
Te pega dali, te pega de lá
Cuidado que a Cuca vai te pegar!
Cuidado que a Cuca te pega. Te pega daqui, te pega de lá
Dorme tranquila, nenhum mal irás sofrer
Confia nesse amigo e não vai se arrepender
Quietinho e calado nesse canto em meu colo aconchegado
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5. |
Prelúdio em HD
02:06
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A culpa é daquela tela que tá lá
Colocada lá no altar. Chibata que te lasca o lombo
Faz toda dor ser possível
Te ensina a ser braço da mão invisível
Nela eu vou ver guerra vencer
Nela Tu Vê, vê teu vudu em HD
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6. |
N'aghadê
06:51
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Ê, ó senhor rei dos ventos que sopra nos campos
Que carrega as sementes e espalha os meus prantos
Lance um passe que faça esse quebranto passar
Esse feitiço maldito se apossou da praça
Acendo uma vela pra virar fumaça
Que assim seja! Que assim se faça!
Ela é nossa mãe, nossa filha
Ela é nosso grande irmão
Ela é nossa novela, nossa tela
Ela é nossa solidão
Nossa tela, nossa cela, nossa solidão
Nossa santa, nossa sina, nossa senhora que ilumina
Nossa santa, nossa sina, ela é nossa assassina
Nefasta feiticeira, sinistra criatura
De manhã traz a doença e à noite vende a cura
Ê, ó senhor rei do fogo que clareia a noite
És chama que chama e embala os açoites
Lance um passe que faça esse quebranto passar
Esse feitiço maldito que calou a massa
Apago uma vela pra virar fumaça
Que assim seja! Que assim se faça!
O seu salário de um ano, eles faturam por hora
Bate palma pra humilhação, confunde herói com vilão
O poeta* já disse: “eles são os ricos que o meu povo adora”
Bate palma pra humilhação em alta definição
Ela vem sussurrando em surround
Tu se rende no primeiro round
E até lá no meio do mato, naquela casinha de sapê
Bate palma, estica e puxa. E viva a festa da bruxa
A tecla SAP vai dizer qual é a língua do poder
Quero poder! Quero poder mandar!
Da grana me morde a fome, da fama eu quero provar!
Quero poder! Quero poder matar!
E escrever com sangue meu nome no teu altar!
Propagandê, propaganda
Pra eu poder vender, pra eu poder comprar
Propagandê, propaganda
Que é pro feitiço propagar
Ê, ó maldita macumba quimbanda macabra
A revolução não será televisionada
Que assim seja! Que assim se faça!
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7. |
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Eu sei, a vida é dura, mas já não posso mais aguentar essa
Me explica, seu doutor, como pode a caça se apaixonar pelo caçador?
Quanto mais apanha, mais satisfeita fica
Queria ser como você tão bonita e rica
Mas não foi o fado reservado para mim
Se eu nasci pra sofrer foi porque deus quis assim
Eu não aguento mais. É hora do coitado se vingar do capataz.
Travando uma batalha. A justiça tarda, tarda e no final ainda falha
Pois eu queria ser como você, um filho da puta!
Viva! Viva! Mas não sou assim…
Quanto mais apanha, mais satisfeito fica
E assim vamos vivendo, caminhando para o fim
Admira o próprio carrasco, pois, no fundo, é ele que você queria ser
Pra pisar em todo mundo, inclusive naquele que no caso é você
Eu não aguento mais…
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8. |
Consagração da Primavera
04:59
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Hoje eu te elevo, doce princesa
Celebrar tua força, tua beleza
Onipresente o teu hino ecoa em mim
Entoado em coro forte, encruado em carne e pedra
Em silêncio, rasgando-me a garganta
A plenos pulmões quero cantar!
Hoje eu te elevo!
No sangue eu carrego a tua presença. Sempre
Arranhando as veias, as artérias. Sempre
Dá sentido a quem eu sou, a tua presença…
Sempre
Embalado no teu colo eu me lanço ao sopro de uma espiral ascendente
Sinfonia vertical, cujo início mal se ouve
Cuja explosão o corpo pressente.
O acorde estridente que arrebenta de repente
De mãos dadas giraremos
Juntos subiremos até as portas do lugar onde mereces estar!
O topo dos topos! O topo dos topos!
Hoje eu te elevo, doce princesa
Celebrar tua força, tua beleza
E do ápice da máxima altura, conhecerás o beijo gelado do nada
A sentença da queda livre rumo ao bruto tombo que consagrará a tua destruição
E com os teus cacos brincaremos, e sobre os teus escombros dançaremos
Por fim, a primavera.
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9. |
Os Assaltimbancos
05:40
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Dóceis animais! Dóceis animais!
Não mais! Não mais!
Doces serviçais, não reconhecerás!
Era uma vez e ainda é
Uma velha história, uma nova cara
Os mesmos barões que mais uma vez irão ficar de cabelo em pé!
Apanhar as máscaras.
Sorrir para as câmeras
Explodir os caixas
Vamos lá…
A gata, a galinha, o jumento e o cachorro
Resgatam memórias que pedem socorro
Máscaras em nome de uma só voz
E no mundo dizem que são tantos como somos nós
O peso da terra, o preço da guerra, quem é que carrega?
Fidelidade à nossa raiva, faz-se certeza nossa missão
Aos saltos, de banco em banco
Desapropriando a riqueza essa mesa vai virar
Trazendo o sonho pra vida real
Tomando de assalto a cidade ideal
Algo na luz dessa lua junta minha vida com a tua
Um grito trancado no peito por tantas correntes
Das contas correntes quer se soltar
Enquanto dorme a cidade, silencioso é o combate
A estranha senhora hoje nossa será
Nessa serenata toda bicharada vingada irá cantar
Ao menor sinal de perigo, me alcança a mão meu amigo
Corre para a rua e olha para a lua
Tua dor é minha, minha dor é tua!
E no mundo dizem que são tantos como somos nós
Atenção! Atenção!
Grande é a tensão na pensão do barão
Se a gente canta em coro é mais forte o som da nossa voz
ATENÇÃO! ATENÇÃO!
GRANDE É A TENSÃO NA PENSÃO DO BARÃO
E NO MUNDO DIZEM QUE SÃO TANTOS COMO SOMOS
ANÔNIMOS ANIMAIS, ÀS SUAS ORDENS NUNCA MAIS! ANÔNIMOS ANIMAIS!
E no mundo dizem que são tantos como somos nós
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El Efecto Rio De Janeiro, Brazil
El Efecto is a sextet created in 2002 in Rio de Janeiro, Brazil, from the desire to
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